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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"Seu filho está morto" - Esta é uma notícia que ninguém deseja ouvir

Talvez você só me conheça como o policial que lhe aplicou uma multa no verão passado, mas eu sou também aquele vizinho que mora um pouco mais adiante de sua casa. Sou pai de dois filhos e tenho os mesmos sonhos que você a respeito do futuro das crianças – assim como a mesma sensação de decepção e vergonha sempre que um filho se mete em alguma encrenca.

Enfrento muito dos mesmos problemas que você, mas fico aflito ao saber que sou tachado de mau, quando estou apenas tentando fazer meu trabalho como policial. O que eu mais quero, na verdade, é evitar o tipo de tragédia com o qual tenho me defrontado.

O cenário é uma reta de estrada, com uma curva fechada ao fim do trecho. Está chovendo e as estradas encontram-se escorregadias. Um carro com excesso de velocidade, a 130 km/h, erra a curva e desce por um barranco, atingindo em cheio a uma árvore. Um dos dois jovens no carro é projetado para fora e atirado contra uma árvore. O motorista morre no mesmo instante. Ele teve mais sorte. A garota atirada contra a árvore quebrou o pescoço. Ela fora eleita rainha da festa de fim de ano na escola e a aluna com maior probabilidade de ter sucesso na vida. Mas agora vai passar o resto de seus dias numa cadeira de rodas, revivendo mentalmente, vezes sem fim, aquele momento terrível.

No instante em que chego à cena do acidente, vejo o carro com as rodas para o ar. Fumaça e vapor desprendem-se do motor, arrancado do lugar por uma força extraordinária. A estrada está deserta, exceto por um passante, que testemunhou o acidente. Ele se sente mal e encosta-se no próprio carro, em busca de apoio.

Minha mente se concentra nos gritos que vêm da garota lançada fora do carro. Corro até ela com um cobertor, mas tenho medo de movê-la. A cabeça está inclinada num ângulo grotesco. Ela não parece perceber minha presença e chora, chamando a mãe como se fosse uma criança.

No local de outro acidente, encontro o motorista em estado de choque, sem conseguir sair de trás da barra de direção, toda retorcida. O rosto dele ficará para sempre marcado pelos cortes profundos provocados por vidro quebrado e pontas de metal. Esses cortes serão curados, mas as feridas internas não estão ao alcance de nenhum bisturi.

Num outro dia, em outra cidade, chego ao local momentos depois de um rapaz bater com o carro. Ele está coberto de sangue, que jorra de uma artéria rompida por um osso quebrado, cuja ponta se projeta abaixo do cotovelo. Sua respiração sai entrecortada, enquanto ele tenta desesperadamente sorver o ar pelas vias respiratórias inundadas de sangue. O rapaz não consegue falar e seus olhos arregalados se fixam em mim, pedindo ajuda. Eu o reconheço como o mesmo garoto a quem adverti numa outra noite, ao encontrar um garrafa de bebida aberta em seu carro. Se eu o tivesse multado, talvez hoje ele estivesse vivo. Mas o garoto acaba morrendo em silêncio, em meus braços os olhos azuis pálidos fixos no vazio, como se tentassem enxergar o futuro que ele nunca verá. Ouço o lamento da ambulância, enquanto sou tomado por uma forte sensação de perda, pelo desperdício dessa força inestimável, que é nossa juventude. A equipe da ambulância remove o corpo do rapaz, enquanto lágrimas descem por meu rosto, misturando-se às gotas de chuva.

Você me pergunta: por que isso aconteceu? Por que um adulto, tentando ser camarada, comprou ou vendeu uma caixa de cerveja para um menor de idade. Aconteceu porque um jovem, meio fora de si, pensou que poderia manejar uma bala suicida a mais de 100 km/h. Fico revoltado e frustrado quando penso nos pais e líderes comunitários que acreditam que um pouco de álcool não vai fazer mal a ninguém. E sinto enorme desprezo pelas pessoas que defendem a liberação do consumo de álcool por jovens, alegando: “Eles vão beber de qualquer jeito, então, por que não legalizar?”.

Sim, estou furioso, e rezo a Deus para não mais ter de encarar um pai no meio da noite e dizer: “Sua filha ou seu filho morreu num acidente de carro”. Espero também que isso não aconteça com você. Mas, se continuar a encarar o abuso de bebida como algo que faz parte do processo de crescimento, por favor, deixe acesa a luz da varanda porque, numa noite fria e chuvosa, vai me encontrar parado em sua porta, os olhos baixos, trazendo uma notícia para você.

Texto de Dale Martel
Publicado na revista Seleções Reader's Digest em Maio de 2001 (p. 31)

Um comentário:

  1. Nossa, esse tema é pesado. Mas virou comum em nosso país. O que fazer?

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